terça-feira, 9 de junho de 2009

O Corão, a Bíblia e O Capital

O escritor e filósofo francês, Roger Garaudy, foi membro do Comitê Central do antigo PCF – Partido Comunista Francês e se converteu ao Islã, vejamos alguns trechos de sua memorável entrevista ao jornal O Globo, em 19/04/1992:

“Quando recebi o Prêmio Faissal, o Nobel dos árabes, eu disse que entrava no Islã com a Bíblia debaixo de um braço e O Capital, de Marx, no outro. O mundo islâmico me apareceu como característico do Terceiro Mundo. É por uma razão cultural que mudei a minha visão religiosa do mundo. Sou professor de Filosofia, tenho quase todos os diplomas que poderia ter na minha profissão, mas reparei que, aos 45 anos, ignorava a filosofia indiana, a chinesa... Tudo o que não fosse do Ocidente. Eis aí uma mutilação. Sobretudo hoje nessa crise cultural do Ocidente, onde para milhões de pessoas a vida não tem mais sentido. Acreditar em Deus é o mesmo que dizer que a vida tem sentido, qualquer que seja a religião.

“Não há educação mais humana a dar a um jovem do que mostrar que o mundo não é uma realidade toda feita, acabada, mas é como uma obra de arte. Nesse ponto de vista, a arte está muito próxima da religião. Lembra-nos que a vida tem sentido. Arquitetura, arte, dança. Dança é uma maneira de viver, viver de uma maneira criativa. O cinema é uma maneira de informar as pessoas.

“O caso do cinema americano é uma grande infelicidade do nosso século, ao pregar a exaltação da violência, do racismo, a destruição dos índios. Um escritor francês, George Duhamel, dizia que um povo que viva sob influência do cinema americano durante 50 anos está condenado à decadência.

“O cristianismo, como toda religião pede objetivos. O marxismo nos dá meios de análise. Dizer que os dois são incompatíveis é como apontar uma incompatibilidade entre arquitetos e engenheiros, entre ser cristão e muçulmano. Continuo sendo cristão, marxista e muçulmano.

“Minha missão atual, que considero uma vocação, no Islã, é lembrar a dimensão cristã de amor que há dentro do Islã. Esse é o meu papel, agora, e foi algo semelhante que tentei fazer durante 30 anos no partido comunista.

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